Nosso bate-papo de
março é com a atriz mossoroense Antonia Lúcia da Silva, conhecida em todo o
Brasil como Tony Silva. Muitas gargalhadas deram um rumo contagiante à nossa
conversa, via internet, com muitas histórias de alguém que cativa pela
sinceridade e simplicidade.
Logo de cara perguntamos o que Tony tem feito
nesse período de isolamento: “Estou com alguns projetos com Dionísio do Apodi,
fazendo uma leitura dramática de Morte e vida Severina, com um bocado de gente
diferente; Estou com “Sem eira nem Beira de Arte”, que é aquele projeto que faz
três anos. Eu vou para uma praça, um beco, calçada, coloco uma caixa de som com
microfone, recito alguns poemas, canto algumas coisas, e tem um pessoal do Café
com Poesia que vai comigo, a Dulce Cavalcante, uma senhora de oitenta e tantos
anos, vai lá e recita poemas, faz entrevistas, e a gente abre uma roda. E se
tiver algum artista, eles que dão continuidade ao projeto, e assim estou
fazendo esse trabalho. E também com algumas outras coisas, pensando em fazer um
resgate de serenatas. Achei um parceiro aí que toca muito bem violão, ele tem a
idade parecida com a minha, a gente não pode sair agora por causa do risco,
porque o vírus não poder ver um ‘veinho’, né?”.
Tal qual uma metralhadora
giratória quando fala sobre seus projetos, a atriz conta sobre os que estão
sendo executados e o que estão por vir. Rapidamente, sem dar tempo para defesa,
então, pergunto como é o dia a dia de sua profissão, dentro de casa, como ela
tem se virado…
Tony Silva – Dentro dessa pandemia, assim fechado, eu
tenho feito alguma coisa, né, lido algumas coisas, vendo algumas coisas… Dona
de casa, né, Tulio? Porque dona de casa é a pior profissão que existe (rsrsrsr)
quem inventou foi o ‘sapirico’, porque é muita coisa pra fazer, todo dia você
amanhece, eu acordo cedíssimo…
E você está conseguindo
conciliar com a sua profissão?
Tony Silva – Tem que
conciliar, né? Eu vou dormir cedo demais também, acordo muito cedo. Duas ou
três horas estou ‘jogando’ no WhatsApp umas reflexões pra mais de 500 pessoas.
Faço isso todos os dias, de segunda a quinta-feira eu estou mandando, porque as
pessoas estão tão deprimidas, tão ruins na vida, que a gente precisa dar
algumas palavras de consolo, impulsionar pra vida, a autoestima tem que ser
elevada. Porque nunca tivemos numa situação como essa, são duas pandemias: uma
está no poder, matando todo mundo, e a outra está assolando aqui, o país todo,
o mundo todo, mas começamos a derrocada….
A atriz mantém um importante e interessante
projeto com bonecas. Diz que é uma coisa que realiza junto com um grupo que
tinha uma oficina chamada “Você tem história para contar”, que é só com gente
‘jovem’ de 80, 70, 60 anos. “Essas meninas, Marlene Maia, Dulce Cavalcante,
Vanda Jacinto, a filha de Marlene, a gente se juntou e tinha que pagar pra
Aldir Blanc. Eu disse que era preciso pagar isso aqui, porque eu fiz uma
mudança, eu fiz um projeto de mudar a casa, porque a casa era o recinto de
‘Maria Espaia a Brasa’, e eu tinha como contrapartida dar essas oficinas. Então
fui fazer com as meninas, e foram umas tardes assim maravilhosas, quase um mês
de contar histórias; cada boneca tem uma historinha, e eu estou pensando
seriamente em voltar com isso, depois dessa coisa, todo mundo vacinado, a gente
voltar não só com as bonecas, que é muito bacana fazer bonecas de pano, que
hoje só temos industrializadas, com retalhos. Fazer colchas de retalhos para
doação para as casas de saúde, essas coisas… Não tem nada certo ainda” —
esclarece.
Você sempre foi uma das líderes em Mossoró… Teatros fechados, a
rua sem arte, como é que os artistas estão sobrevivendo, como você vê isso
tudo?
Tony Silva – É um
sufoco grande, porque é o primeiro a parar, dizem isso, e isso é um chavão, é o
primeiro a parar e o último a voltar. Para os poderes, sim. Mas as pessoas
continuam fazendo seus projetos, mesmo de casa estão entrando nos editais,
participando. Eu é que sou muito ‘molona’ e burra, porque eu não sei fazer nada
na internet… Só o whatsApp, o resto eu não sei mais nada. Fui abrir meu e-mail
e não sabia mais, tive que chamar meu sobrinho. Estou ficando assim, nessa
coisa de pandemia, não tenho condições. A minha vida é de muito mais gente,
pessoa a pessoa. Quando você para nesse instrumento (mídia) é muito difícil. É
igual aquela coisa de sacar dinheiro de aposentado, o velhinho tem que ter
sempre uma pessoa que ele paga 20 reais para que ele possa tirar o dinheiro
dele, já é pouco e ele ainda paga pro cara tirar, não confia na família, mas
confia na pessoa que está lá no banco. É assim eu vejo cada um dando seu
depoimento, que a coisa está ruim, agora mesmo pra gente fazer um trabalho, o
grupo junto com Dionísio, a gente não pode se encostar porque o vírus atacou
com força. Depois da campanha política, que depois do resultado de cada
campanha a gente tem uma miséria para gente administrar, foi um aumento muito
grande… A campanha política, o final de ano, o carnaval, e a gente tem que
administrar essas três coisas porque não temos condições, nem consciência
suficiente para ficar em casa, se resguardando. Tem que a polícia dizer: menino
fique em casa, fulano passe gel, lave essas mãos, tome banho, bote máscara. É
uma coisa.
“Eu não entendo essa demência que nós temos, não entendo
como é que o ser humano não compreende que ele precisa ficar livre.”
Se a gente, todo mundo se unisse, daria certo
pra que não levasse essa pandemia tão à frente, mas isso é um trabalho de
educação, e educação nesse país tá muito difícil.
Tony Silva sorri ao comentar sobre o começo, quando pergunto sobre sua paixão
pelo teatro. O início da carreira e dos que a incentivaram, Aécio Cândido,
ex-vice-reitor da UERN, e do poeta Crispiniano Neto, que praticamente a
empurraram para o palco. “Eu não fui apaixonada pelo teatro, não. Eu fui
empurrada para o teatro, depois é que eu conheci. Eu fazia Técnica Agrícola, em
1978, quando conheci Aécio Cândido e Crispiniano Neto, professores à época na
ESAM. O Elizeu Viana tinha um convênio com a ESAM, aí eu inventei de fazer
Técnico Agrícola, nem sei o porquê, pois não sei criar nada, nem piolho, mas
fui… Um dia na brincadeira, Aécio disse: Tony eu vou escrever um texto de
teatro para você participar. Eu disse: ‘ômi’, escreva que eu vou. Adolescente,
lá fui. Um ano depois que terminei os estudos, feito faculdade de Educação
Física, ele me convidou e eu comecei a participar desse texto chamado “Circo,
alegria do povo”, na época em que começou a morrer o pastoril, o boi de reis, a
ciranda, e foi começado a ser substituída por outras coisas. Ele fez esse texto
maravilhoso, com drama, chamado João Boa Morte, que era em relação à terra,
terra para quem trabalha, uma coisa assim… Naquela época, ensaiávamos durante
um ano inteiro para memorizar, decorar. Não memorizar, que eu não sabia nem o
que era isso. Mas um ano depois, dia 03 de novembro de 1980, não me lembro ao
certo, mas geralmente a gente estreava ao espetáculo depois de dia de finados
(não sei o que Aécio tinha com os defuntos (rsrs) mas era sempre depois do Dia
de Finados). Lá na FACEM, onde hoje é o auditório, que se tornou um depósito há
muitos anos, e não vai se arrumar de jeito nenhum. Naquela época os estudantes
da universidade também participavam daquelas coisas, eram mais aguerridos,
participativos, estavam presente nos recitais, frequentavam os espetáculos no
ACEU. O que sei é que o Epílogo de Campos estava ‘entupetado’ de gente,
sentados no chão, no corredor, e bateu um medo na hora de entrar. Eu disse:
“Vou entrar não!” (rsrsrsr) — Aécio disse: “Vai, sim”, e me empurrou. Eu fui e
nunca mais saí. Foi um bendito empurrão, porque eu conheci uma coisa chamada
teatro, que não conhecia, não sabia. Só ouvia falar nos mamulengos, no João
redondo, mas nunca tinha visto o João Redondo. Eu brincava muito de tique, de
bandeirinha, era muito macheira, no meio da rua brincando com homem, com mulher,
jogando bola, mas eu conheci o teatro, levei 10 anos. Vou ser atriz, não. Vou
ser trabalhadora da arte, porque a gente trabalhava tanto, confeccionava tudo,
na época, inclusive a iluminação de latas de sorvete; figurino, pintava; eu ia
dormir de madrugada, de manhã, mas a gente se sentia satisfeito fazendo e foi
muito bom isso acontecer. Depois veio “Terra Pra Quem Trabalha”, isso tudo no
grupo TERRA, com Aécio Cândido. Iremar era um dos compositores da época. Só
tinha gente filé, eu não sabia se era bom, não, mas que era gente filé demais,
era. Iremar Leite que é uma sumidade na música, Aécio que é um grande
historiador; Crispiniano Neto, e a casa 65 era muito visitada, na Tibério
Burlamaqui, casa de Aécio, visitada por muita gente e eu adorava aquele universo,
ouvindo as histórias dos cantadores e músicos que passavam lá” — recorda.
E suas influencias? E esses cantadores? Ouvimos muito a respeito
dessa coisa dos cantadores de Mossoró naquela época.
Tony Silva – Tinha muitos,
como Luiz Antônio, adorava ouvir Luiz Antônio cantador, ele recitar, cantar. Eu
ia para os festivais. Otacílio Batista, muitos, muitos. Eu perdi a conta das
noites que eu sentava na calçada pra ver os cantadores fazendo aquelas brigas
entre eles, as disputas; Conceição Acyoli que é escritora, teve lá na casa de
Aécio. Muita gente bacana que eu não lembro mais, mas que ficou na saudade
aquilo tudo, numa época de gente mais culta… a gente ouvia muito mais histórias
do que hoje. Passei dez anos para ser chamada de atriz, no dia que saí na
televisão, e um dos vigias da FACEM disse assim: Eita, Tony, você é artista,
né? Por que isso? Porque você apareceu na televisão. A partir daí foi que
entendi que pra eu ser artista pra ele, para ser atriz, tinha que estar na
televisão. E não é algo que eu gosto muito, não. É muito complicado, mostra
muito os defeitos da gente, e eu sou muito linda para que todo mundo me veja
(kkkkkkkk). Comecei a me chamar de atriz. “Eu sou atriz”, dizia, e repetia
muito durante a noite para não ‘esborrotar’, pois a palavra tem que estar
dentro de você, e você ser. Eu imaginava que ser atriz era só o povo que estava
na Globo, na época. A gente fazia tanta coisa bacana nos terreiros, apresentava
os espetáculos nos terreiros, as pessoas participavam mais, estavam mais presentes.
Hoje não, você pena para realizar um espetáculo.
Tony comenta a nudez da personagem no
espetáculo Medéia e se diz surpresa com a reação do público. Comenta que às
vezes a plateia era composta por uma pessoa. “Quando eu estava n’A Máscara,
última companhia que participei, a gente fez espetáculos para uma pessoa só,
uma. Toda quinta-feira a gente fazia ‘Medéia no Covil da Medeia’, lá na Rua Rui
Barbosa, e às vezes era somente uma pessoa que ia assistir. Acho que era coisa
de 22 horas, eu ficava nua, o povo ficava meio assombrado com o espetáculo. Não
sei se a gente forma ninguém para ver espetáculo. Não é bem formar. Acho que a
gente tem que contribuir para que a educação seja fortalecida e aconteça nesta
cidade, neste país, para que ele (o público) vá para os musicais, para o
teatro, tem que ir para ver os cantadores cantar, não é só essa musiquinha de
hoje — que eu não tenho nada contra —, mas que eu não gosto, que não forma
nada, não diz nada, ele forma para cima da cachaça, que a gente toma, e da mulher
para se prostituir. Só isso. Não tem outra coisa. Aí dizem, é o novo! O novo,
não! Estamos contribuindo para uma coisa ruim se proliferar. A letra da música
me dói, acanalha comigo, como mulher, como ser humano; uma mulher cantando uma
coisa que denigre a mulher, num deboche, isso é horrível” — lamenta.
A atriz Tony Silva concorreu ao prêmio de
Melhor Atriz no Festival de Brasília. Participou do filme “Lua Cambará – Nas
Escadarias do Palácio”, do diretor cearense Rosemberg Cariry, e do documentário
“Fabião das Queimadas”, de Veríssimo de Melo, dirigido por Buca Dantas. Foi a
única atriz selecionada que atua fora do eixo Sul/Sudeste para concorrer ao
Troféu Cadango. Nesse ensejo, suas concorrentes, num total de cinco, todas eram
atrizes da Rede Globo de Televisão. Já participou de várias companhias de
teatro, entre eles o Grupo Escarcéu, Nocaute à Primeira Vista, Terra, tendo
participado também do espetáculo “Príncipe do Barro Branco”, do grupo natalense
Tambor, e de “Os Desencantos do Diabo”. Afirmo categoricamente que é um
patrimônio que Mossoró tem e que deve valorizar. Mas será que isso foi bom pra
ela e a prendeu na terra onde Lampião perdeu as botas? Ou será que ela estava
satisfeita com o sucesso aqui, e isso teria impedido de ir pra outros lugares? “Não.
Eu sempre quis.
“Depois que eu entendi que a arte pra mim ela revoluciona em
qualquer canto, que minha arte tem que ser revolucionária, então não preciso ir
para o Rio de Janeiro para dizer que sou atriz.”
Quem precisa vir beber de nossa água aqui é o
povo do Rio de Janeiro, e dizer o quão nós somos resistentes, como nós somos,
como agora com o que está acontecendo. Eu preferi nunca ter essa oportunidade
de sair, fazer um curso fora, nunca tive. E esse ‘patrimônio’ é só aqui, entre
você e eu. Quando sobe a calçada daqui de casa minha mãe não sabe que sou
patrimônio. Aliás, nem eu sabia (kkkkk). São coisas que o povo inventa, aquela
coisa que vereador faz, que manda convite para as pessoas e bota lá na gaveta.
Patrimônio serve para quê? Para fazer um espetáculo a gente tem que dar duro, e
eu tenho que pedir a uma pessoa para fazer um projeto? Se é um patrimônio por
que o Poder não sustenta com um salário suficiente? Esse patrimônio serve pra
quê? Mas, vou contar para você sobre aquele camarada que era governador, e que
saiu antes de Fátima, o Robinson Farias. Na época de Rosalba, ele não tinha
quem homenagear e mandou me chamar. Queria me homenagear. Ele nunca tinha visto
um espetáculo na vida dele, principalmente de Tony Silva, né? Aí eu fui lá e
dei a língua pra ele. Tirei uma foto oficial dando a língua pra ele (kkkk)” —
Diz a atriz com uma daquelas gargalhadas de fechar um quarteirão inteiro.
“Porque um cara que está me homenageando sem saber, nunca viu um espetáculo
meu, não sabe nada… É a mesma coisa do patrimônio”.
Que patrimônio é esse, gente,
que quando eu passo fome ninguém grita?”
“Tem umas pessoas que dizem: Tony você é uma
grande atriz, eu sou sua fã. Minha mãe adora você. rsrsrsrsrsr Aí eu digo: E é?
Ótimo! Mas não aparece um patrocinador para um espetáculo. Sou conhecida por
toda Mossoró, em todo Rio Grande do Norte. Com a cega Nicácia, que é uma
personagem do Oratório de Santa Luzia, foram mais de cem mil pessoas que me
viram, que alisaram a minha canela um dia, lá no Adro, como se eu fosse a cega,
e as pessoas começam: aqui aconteceu um milagre. É uma mentira tão bem contada,
mas as pessoas adoram. A arte tem esse poder de ludibriar as pessoas e tem a
forma de levar as pessoas a acreditar na transformação. Por isso que ele passa
antes e não pode ser sustentado pelos poderes. Eles têm medo que a pessoa pense
que eles deves mudar…
Esse é seu grande poder,
você é influenciadora, através da personagem. Esse mundo é fantástico por isso.
Por isso é que a gente que faz arte na
cidade, no país, no Brasil, no Mundo. Porque eles têm medo de que aquelas
personagens, que aquelas pessoas comecem a ver o que eles estão dizendo, na
realidade. Quando um cara decora um texto durante 13 dias, que é o Oratório de
Santa Luzia, ele vai entender, vai dizer cada palavra, a palavra vai entrando
nele, e assim é o teatro, ele vai entrando nas pessoas, bem devagarinho, com
sutileza, com o riso, com o choro, com a raiva, mas ele tá entrando sem ferir,
e um dia ele transforma uma cabeça dessas e diz o que veio fazer. É tanto que
ele veio há milhões de anos (o teatro) e sobrevive a todas as populações. Ele
vai transformando, vão mudando, mas ele permanece lá com a palavra; a palavra
ainda é a força do ser humano, a palavra ainda transforma, não é o microfone,
não é a música, é a palavra, o aconchego. É como você diz, a forma de como
dizer só o teatro sabe, eu sei disso, e tenho a esperança de um dia eu ver essa
mudança.
Por isso que não saí, porque eu queria ser
reconhecida na minha cidade, como atriz. Eu não preciso só ir lá pra fora, não.
Qualquer ser humano diz: “Mulher você é atriz, né? E eu digo: “acho que sou”;
Mulher você é tão parecida com aquela menina que faz (nunca assistiu um
espetáculo… kkk mas não me importo); que faz a mãe de Santa Luzia (nunca ouvi
dizer que a mãe de Santa Luzia fosse preta)… E ela: (kkkkkkkkkk)… Mas a voz é
uma identificação, é tudo. Só não quero mudar minha forma de viver a minha
vida, não quero.
Essa falta de reconhecimento
seria sua maior mágoa em sua carreira?
Tony Silva – Não é.
Você sabe que nós que tratamos com a arte, com qualquer tipo de arte, a gente
não pode ficar acomodado. Eu tenho medo de me acomodar, porque é isso que
acontece aqui quando você é subsidiada. É como aqueles camaradas que vão servir
a algum político, que vestem a camisa e vão defender uma coisa que eles não
sabem nem o que é. Tenho medo disso. Eu queria muito que a política cultural
tivesse esse entendimento. Quanta gente hoje vive de arte na minha cidade? Eu
sou aposentada do Estado – fui professora do Estado. Trabalhei na área de saúde
do Estado com os meninos do SEDUC, e tentei fazer minhas coisas lá dentro, e vi
uma transformação bacana. Só que não deram continuidade. Eu queria que essa
contribuição, mesmo que tenha dado pouco, mas que ajudasse a outras pessoas
também a viver. Quanta gente de arte? Quantos músicos, quantos atrizes, atores,
hoje vivem sem ter um tostão, não tem uma política para isso? Veio a lei Aldir
Blanc agora, que você tem que fazer um malabarismo pra dizer que é artista.
Tudo você tem que provar que é artista. É como uma pessoa lhe procurar para
você escrever um texto que vai comemorar alguma coisa e a pessoa não pergunta
quanto é meu trabalho… Isso é ruim, você não pede a qualquer pessoa para ela
fazer. Um padre, por exemplo, não reza uma missa sem pagar. É a minha
profissão, me respeitem, me perguntem, mesmo que eu faça de graça. Não é meu
amigo aquele que pede pra fazer trabalho de graça. Faço para os amigos, é
claro, que estão na labuta. Agora, para instituição? Faço não, viu? Tem que
perguntar quanto é. Porque quando aquelas bandas grandes vêm pra cá, primeiro
você paga os 50% pra eles saírem de casa. Quando eles chegam na cidade, para
subirem no palco, você paga os 50% restante. Por que para os artistas da cidade
não tem essa mesma prioridade? Por quê? Vamos falar de dinheiro às claras,
porque é isso. Eu preciso ver essa cidade pensar diferente, e eu acho que
começou.
“A gente precisa mudar o pensamento, o caminhar, o trilhar
dessa cidade para evolução do cidadão.”
Para quem quer seguir a
carreira de atriz/ator, o que você diria?
Tony Silva – Todos têm que
experimentar, seguir em frente, como o teatro é egoísta, ele vai escolhendo. A
arte vai escolhendo e fazendo seu caminho. A palavra é fazer.
FONTE
– PAPANGU NA REDE